Os monstros somos nós do outro lado da tela.
Seres que amam como nós, mas têm medo de não serem correspondidos, pois sabem de antemão que não serão aceitos e que a verdadeira felicidade é repentina e, portanto, rara.
Nada é mais difícil de suportar que uma sucessão de dias belos
Goethe
Enfrentar monstros é superar medos. É enfrentar a esfinge e deixá-la muda. Segundo Lutz Müller as “figuras amedrontadoras da fantasia humana” (demônios, diabos, bruxas, divindades más, figuras horrorosas e monstros) causam medos e sensações de perigo à personalidade humana.
Os medos representados em todos os tempos e em todas as culturas são arquetípicos, “são experiências universais básicas que determinam a vivência e o comportamento do indivíduo, tanto no presente como no futuro”.
O cinema de horror funciona como “catarse programada”, purga nossos medos em segurança. Para Luiz Nazário, em entrevista concedida a revista Superinteressante, “o monstro foi banalizado pela indústria cultural e deixou de (…) ser índice de transgressão, de porta-voz da diferença. O monstro já foi uma metáfora do outsider; hoje é um objeto de consumo”.
A repugnância e o encantamento que os monstros exercem atravessam séculos. Eles são a própria representação dos medos e perigos presentes na experiência humana, em nosso processo evolutivo. Todos nós expurgamos nossos medos e, ás vezes, eles ganham forma iconográfica.
Texto extraído da Revista Universitária do Audiovisual – O monstro, o cinema e o medo ao estranho de 15 de maio de 2012.